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“Onze” homenageia militares mortos no maior desastre aéreo da história de MS

Eram 7 horas e 26 minutos do dia 18 de setembro de 1974. Manhã úmida de inverno na fronteira. A cidade de Ponta Porã amanheceu encoberta por um denso nevoeiro. Uma explosão sacodiu os ares na cidade que acabava de acordar. Naquele exato momento, um avião C 115 Buffalo, da Aeronáutica, se chocava com um poste e uma árvore nas proximidades do Aeroporto Internacional.

O acidente, o maior desastre aéreo da história de Mato Grosso do Sul, resultou na morte de 19 pessoas. Apenas um sobreviveu.

As vítimas eram oficiais de alta patente do Exército e da Aeronáutica e seus auxiliares diretos. Eles vieram a Ponta Porã para fazer uma inspeção no quartel do 11º Regimento de Cavalaria.

Hoje, no local em que o avião se espatifou, existe um monumento chamado Votivo, construído pelos militares para manter viva a memória do acidente. A área pertence ao Exército e é cuidada pelo “Onze”.

Na última segunda-feira, 18 de setembro, 49 anos da tragédia, o Regimento promoveu uma solenidade que contou com personagens que protagonizaram o triste episódio. Entre eles, o médico Asturio Marques, que na época era militar que servia no “Onze” e a advogada BelmiraVilhanueva.

Belmira foi a responsável por salvar o único sobrevivente. Astúrio comandou a equipe médica que salvou a vida do Sargento ShiroAshiuchi. O rapaz, que servia na Aeronáutica, foi jogado para fora do avião no momento do choque com o solo. Foi o que salvou sua vida. Todos que ficaram na aeronave morreram queimados. Shiroteve várias queimaduras pelo corpo e uma perna amputada.

O médico Dr. Asturio Marques conta em detalhesdo que houve naquele dia: “era uma manhã com muita neblina na cidade. Não dava para enxergar quase nada. Sabíamos que seria difícil um avião pousar no aeroporto por conta do nevoeiro. Estávamos esperando que eles viriam para Ponta Porã somente à tarde. Eu estava no hospital quando ouvimos um estrondo. Era o avião que explodiu. Ele bateu num poste de ferro e numa árvore e se espatifou no chão. Pegando fogo. Ligaram no hospital e eu fiquei de plantão quando trouxeram um oficial. Infelizmente não deu para salvá-lo. Depois chegou a Belmira com o Sargento Shiro. Ele estava muito mal. Tive que amputar a perna dele. Graças a Deus foi possível salvar aquela vida”.

BelmiraVillanueva relata, emocionada, o que presenciou. “Foi muito triste. Triste demais. Ví pessoas queimando, fritando o corpo no meio do fogo dentro do avião. Corri para cá atraída pelo estrondo. Ao lado do avião em chamas ví o sargento Shiro caído. O corpo dele queimava. Consegui arrastá-lo até a rua e parei uma camionete colocando o rapaz na carroceria. Fui com ele até o hospital. Lá, foi muito bem atendido pela equipe comandada pelo Dr. Astúrio. Este lugar me causa muita tristeza, mesmo depois de tanto tempo”.

A tragédia que ocorreu na manhã daquele 18 de setembro pegou a todos de surpresa. No quartel todos esperavam a chegada do grupo de militares no começo da tarde. Pela manhã, eles deveriam passar por Bela Vista, onde iriam inspecionar o 10º Regimento de Cavalaria. Mudaram os planos porque lá, também não havia teto para pouso do avião, por conta de um denso nevoeiro. Mesma situação registrada em Ponta Porã. Porém, o piloto da aeronave, o Coronel Aviador Macedo, comandante da Base Aérea de Campo Grande insistiu em pousar em Ponta Porã, mesmo com os alertas da equipe do aeroporto informando que não havia visibilidade suficiente para a operação.

Entre os 19 mortos, estavam o Coronel Aviador José Hélio Macedo de Carvalho e os generais de Divisão, Alberto Carlos de Mendonça Lima e de Brigada, Ângelo Irulegui Cunha, respectivamente comandantes da Base Aérea de Campo Grande, da 9ª Região Militar (atual Comando Militar do Oeste) e da Brigada de Cavalaria.

Na solenidade realizada na segunda-feira, 18 de setembro, no local do acidente, uma convidada especial trouxe a família para prestigiar o evento promovido pelo 11º RC Mec. Dona Celina Filomena Dias, viúva do sargento Hercules Santos Campos que morreu no acidente.

Emocionada, ela conversou com Asturio e Belmira, recebendo detalhes do que ocorreu naquele dia trágico. Seu neto, Marco Aurélio, fez um discurso emocionado: “Queremos agradecer ao Coronel Milton Costa Neto, comandante do 11º Regimento de Cavalaria Mecanizado (Regimento Marechal Dutra), e a todos os militares por esta homenagem em memória do meu avô e de todos aqueles 19 homens honrados que serviram está pátria e que a 49 anos atrás tiveram suas vidas ceifadas no trágico acidente com a aeronave C-115 Buffalo aqui ocorrido. Agradeço, pela forma como o Exército manteve e continua mantendo firme a lembrança e as homenagens a todos esses guerreiros. Não tive o prazer de conviver com o meu avô. Minha mãe Neiva, filha do 2º Sargento Hercules Santos Campos, tinha 5 anos apenas, quando perdeu o pai. Minha avó Celina, tinha 24 anos quando perdeu seu marido, o 2º Sargento Hercules, que era um dos mais jovens militares daquele acidente, com apenas 28 anos”.

A solenidade teve um momento religioso, conduzido pelo Diácono Marco Antônio. Ele lembrou do dia da tragédia. Tinha sete anos de idade. “Uma das recordações mais tristes da infância. E estar aqui hoje, participando deste momento em que lembramos das pessoas que morreram no cumprimento do dever, é uma honra”.

MONUMENTO VOTIVO MILITAR

O Monumento Votivo foi revitalizado recentemente. Ele reproduz uma cruz e os 19 mortos são lembrados com reproduções de pétalas pretas. A única pétala com cor diferente, vermelha, lembra do sobrevivente, o Sargento Shiro Ashiuchi.

O comandante do 11º RC Mec. Coronel Milton da Costa Neto, explicou que a homenagem é feita todos os anos. “Cuidamos com muito carinho deste local. É fundamental para preservarmos a memória deste episodio marcante da história de Ponta Porã”.

O Monumento Votivo, idealizado pelo arquiteto Carlos Cardinal, fica na Rua Comandante Cardoso, ao lado do Parque dos Ervais. Bem perto do Aeroporto Internacional de Ponta Porã. Ao lado dos nomes das vítimas, algumas palavras impressas no cimento revelando ao visitante do local ensinamentos sobre a brevidade da vida. As frases são as seguintes: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”.

Legendas das fotos: Nivalcir Almeida, Tião Prado e Valdemir Almino

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